Budismo

O Budismo é uma religião, e uma filosofia baseada nos ensinamentos deixados por Siddharta Gautama, ou Sakiamuni (o sábio do clã dos Sakias), o Buda histórico que viveu aproximadamente entre 563 e 483 a.C. no Nepal.
    Os ensinamentos básicos do budismo são evitar o mal, fazer o bem e cultivar a própria mente. O objetivo é o fim do ciclo de sofrimento, sansara, despertando no praticante o entendimento da realidade última – o Nirvana.
     A moral budista é baseada nos princípios de preservação da vida e moderação. O treinamento moral foca na disciplina moral (sila), concentração meditativa (samadhi), e sabedoria (prajña).
    O budismo dividiu-se em várias escolas. Atualmente, a principal divisão é entre a escola Theravada estabelecida no sudeste asiático, as diferentes escolas da linhagem Mahayana e as escolas tântricas do budismo tibetano que fazem parte da linhagem Vajrayana.
     Um dos principais ensinamentos do Buda é aquele das Quatro Nobres Verdades, que constitui a base de todas as escolas budistas.
     1. – a Verdade sobre a dor, inerente a todas as formas de existência.
     2. – a Verdade sobre a origem da dor. A causa direta é o ato, o Karma, causado por sua vez pelo desejo incontrolável.
     3. – a Verdade da supressão da dor, e designa a possibilidade de por termo ao ciclo dos nascimentos e das mortes, (sansara).
     4. – a Verdade sobre os meios que permitem a possibilidade da libertação (nirvana). É o Nobre Caminho Óctuplo.
     Após ter vivido vinte e nove anos no meio do luxo e, outros seis anos como renunciante praticando os mais severos sacrifícios, Buda chegou a conclusão de que não era mortificando o corpo, retesando ao extremo os limites do organismo, que o homem chega a compreensão da vida. Nem é entregando-se aos prazeres excessivamente que chegará a tal. Foi aí que Sidarta chegou ao seu conceito de Caminho do Meio: buscar uma forma de vida disciplinada o suficiente para não chegar à completa indulgência dos sentidos, e nem à autotortura, que turva a consciência e afasta a pessoa do convívio dos seus semelhantes.

Budismo Theravada
     A tradição do budismo Theravada, ao mesmo tempo simples e autêntico, encontra-se radicado na Birmânia, no Camboja, no Sri Lanka, no Laos e na Tailândia. Nestes países, a organização social do budismo assenta-se na interdependência entre leigos e monges, e a religiosidade está centrada nos mosteiros.
     A doutrina do budismo antigo assenta em três pilares, chamados as três jóias: o Mestre (Buda), o seu ensino (dhamma) e a sua comunidade (sangha) de discípulos leigos e religiosos.
      O budismo, pragmático e prático, considera os religiosos como tais e os leigos como tais, deixando cada um no seu lugar de acordo com a respectiva opção, as suas capacidades e a sua vontade.
       Buda verificou que a maioria dos homens estão apegados aos prazeres sensuais e que apenas um  pequeno número aceita abandoná-los. No budismo, os leigos têm a liberdade de que lhes oferece a possibilidade de organizar a sua própria vida privada.
       Entre os leigos budistas não existe batismo, nem casamento religioso, nem qualquer outro rito obrigatório respeitante à vida conjugal. O budismo não estabelece leis para os leigos, antes definiu simplesmente “cinco preceitos”:
1.  – abster-se de matar os seres vivos;
2.  – abster-se de roubar;
3.  – abster-se de relações sexuais ilícitas;
4.  – abster-se de mentir;
5.  – abster-se de bebidas que embriaguem que provoquem o desregramento e a desatenção.
    Os fiéis leigos de livre vontade aceitam observar estes preceitos declarando: “Aceito observar o preceito de abstenção de matar os seres vivos; aceito observar o preceito de...”.
     Não existe um budismo para os leigos e outro para os monges. As doutrinas respeitantes as altas espiritualidades dirigem-se tanto aos leigos como aos monges e às monjas. O monaquismo é, muito simplesmente, um estado que liberta das preocupações e das responsabilidades familiares e que permite levar a bom termo uma vida contemplativa.    
      Embora seja possível falar-se de uma supremacia dos monges no budismo Theravada isso acontece por virtude da admiração que se tem pelo ideal de renúncia. Porém, o Theravada não se dirige exclusivamente aos monges. Mesmo porque o monaquismo Theravada não pode subsistir sem o apoio dos leigos, que fornecem aos religiosos o indispensável para sua sobrevivência.
      Sendo que em cada comunidade existem leigos que conhecem bem os ensinamentos canônicos e podem criticar e interpelar os monges, quando agem de modo incorreto, estes não estão em condições de criar uma “nova budologia”. Por esta razão, entre outras, é que não existem interpretações inéditas da doutrina no budismo Theravada.
      Contudo, é inevitável que alguns leigos e até mesmo monges sejam atraídos para diversas crenças e práticas exteriores à sua religião. Entre estas práticas temos as grandes procissões, obstáculos à vida contemplativa dos religiosos, mas que em alguns casos foram assimiladas e integradas, por exemplo, no budismo Cingalês, a celebre procissão de Kandy.
       Os que optam pela vida religiosa, além dos cinco preceitos que são proferidos pelos leigos, se comprometem também a cumprir outros cinco votos que são:
1.  – abster-se de tomar alimentos em tempo indevido;
2.  – não distrair-se com a dança, o canto e a música instrumental;
3.  – não adornar-se com guirnaldas, perfumes e ungüentos;
4.  – não dormir em leitos altos;
5.  – não aceitar ouro ou prata.
     O ritual budista consiste em uma disciplina mental tendente a suprimir o desvario da mente no âmbito dos desejos e orientá-la de forma que possa alcançar níveis superiores de consciência.
     Ritos de ordenação sacerdotal – A tonsura simboliza a renúncia a vida mundana e também a condição de recém nascido.
     O Rito normal, tal como se pratica no Ceilão, começa com a apresentação dos candidatos, junto com seu padrinho, perante o Abade. Numa cerimônia soleníssima, o candidato, levando a tigela das esmolas e os hábitos, solicita a ordenação. O candidato recita três vezes “Eu coloco minha confiança no Buda, eu coloco minha confiança no Dharma (Doutrina), eu coloco minha confiança o Sangha (Fraternidade)”. Então o candidato está preparado para receber a ordenação das mãos de um Superior indicado para tal. Após ser interrogado pelos monges presentes, um dos tutores pede a Assembléia que aprove a ordenação, se a Assembléia aprova com seu silêncio, o candidato recebe a ordenação.
      As devoções diárias dos monges, como são habituais nos países do budismo Theravada, incluem cânticos pela manhã e ao entardecer.

Budismo Mahayana
     No budismo Mahayana os ensinamentos já não provêm da boca do Buda histórico Sakiamuni, aquele que evidentemente pregou todos os sutras do Theravada. Conforme o Sutra da Ornamentação Florida são atribuídos ao Buda “cósmico” Vairocana. O dharma já não é exposto simplesmente à escala humana e histórica, toma como escala o conjunto dos universos possíveis, que são na realidade as facetas infinitamente múltiplas e perfeitamente “intercomunicáveis” da mesma realidade.
       O Sutra do Lótus nos revela que os seres do período cósmico que é ainda o nosso acreditam com toda a candura que o buda Sakiamuni praticou realmente o Caminho e atingiu a Iluminação pela primeira vez nas condições que são relatadas no cânone tradicional, mas não se trata de nada disso. Na realidade o Buda está desperto desde uma Antiguidade que ultrapassa o entendimento humano; desde  incalculáveis idades cósmicas que ele exerce a sua incansável atividade de salvação dos seres num número infinito de universos.
       Por fim, o Sutra do Lótus nos fala deste personagem central do mahayana que é o ser de iluminação, o bodhisattva, termo que designa aquele que está preste a atingir a Iluminação, nesta existência ou num próximo renascimento. Além disso, o bodhisattva é aquele que logo no início de sua marcha para a Iluminação associa através de votos solenes a realização da sua própria iluminação à salvação de todos os seres; enquanto este objetivo não estiver atingido, recusar-se-á a penetrar na última esfera.   Neste sentido, o único bodhisattva da nossa idade cósmica seria Maitreya, o sucessor de Sakiamuni.
       O Sutra da Terra Pura radicalizou ainda mais a atividade salvadora dos bodhisattva, como é o caso do Buda Amitâbha, que não é um personagem histórico, mas um Buda cósmico que fez o voto, quando era ainda bodhisattva de receber todos os que a ele se confiassem pelo pensamento ou pela palavra.
       Nesta corrente de pensamento, a Extinção já não é o objetivo capital. O que é importante e o que é objeto de todas as aspirações é o renascimento aos pés do Buda Amitâbha. Logo de maneira diferente do Sútra de Lótus,  mas, com resultados igualmente eficazes, assistimos aqui a desvalorização dos fins últimos do budismo antigo: o modo de operação do karma é substituído por uma religiosidade baseada nas relações pessoais do fiel com a figura de um salvador.
     Muitas são as escolas que se desenvolveram no âmbito do budismo Mahayana. Na impossibilidade de elencarmos todas elas, vamos nos limitar, como exemplos, a três que se destacam no budismo japonês.
1.   – Em primeiro lugar temos as seitas amidistas, Jodo e Shin, que veneram o Buda Amida (Amitâbha). Estas escolas ensinam que não há nada que possamos fazer por nos mesmos para nos livrarmos dos horrores da situação humana ou dos renascimentos, talvez numa situação ainda pior. Temos que confiar inteiramente nos superiores poderes do Buda Amida para renascermos em seu paraíso, a Terra Pura do Ocidente. Podemos confiar na graça salvadora de Amida somente repetindo com fé absoluta e pureza de coração, a invocação mística “Namu Amida Butsu”.   
2.   – O zen budismo ao qual pertencem as escolas Rinzai e Soto, que ao contrario das escolas amidistas, os fiéis não recorrem a um Buda para a proteção, mas procuram por si próprio alcançar a iluminação. Na escola Rinzai, o discípulo se debate com os exercícios de meditação chamados koan, problemas sem conteúdo lógico ou racional cuja finalidade é despertar a natureza búdica mediante a quietude da mente, à que se chega através da concentração, para elevar-se a níveis além do entendimento discriminatório. O discípulo zen aprende que mediante um esforçado zazen pode com seu próprio esforço e guiado por um mestre experiente, conseguir experiências cada vez mais profundas e repentinas de iluminação, o satori.
3.   A terceira corrente do budismo japonês é a seita  Nichiren, derivada do Sútra de Lótus. Esta seita se ramificou em inúmeras outras que divergindo da seita original em pontos secundários mantiveram a crença inabalável no Sútra de Lótus e a intolerância com as demais formas de budismo e com as demais religiões.
    O exposto é suficiente para mostrar a diversidade das seitas do budismo Mahayana.
  
O Tantrismo
    Considerado muitas vezes como pertencente à linhagem Mahayana. as escolas tântricas do budismo tibetano merecem serem estudas separadamente, uma vez que fazem parte da linhagem Vajrayana.
     À homenagem às Escrituras canônicas solenemente prestadas aos budas e aos bodhisattva, nos textos do Veículo do Diamante (tantrismo) enriquece-se com um terceiro destinatário (talvez o único): o Guru, que se torna o eixo da doutrina.   
     São fundamentais ao tantrismo:
1.   O mantra designa seqüências de sons, às vezes simples sílabas que podem ou não ser dotadas de um sentido óbvio. Um mantra deve ser conferido ao discípulo pelo mestre sob a forma de iniciação; desde então, ele tornar-se-á para o seu detentor um objeto de meditação cuja incorporação garantirá a proteção, a aquisição de poderes e a realização de estados místicos.
2.   – As mudrâ são posições codificadas dos dedos que se supõe selar e garantir corporalmente o que o mantra opera pelo som eficaz; são, pois concedidas pelo guru ao mesmo tempo em que a fórmula da mantra..
3.   – O mandala – designa uma representação elaborada do cosmos, concebido como uma assembléia de divindades em torno do Buda primordial ou como uma geografia mística que tem por centro a palavra Sumeru; alguns mandala podem ser compostos unicamente pelos mantra monossilábicos próprios de cada Buda ou divindade.
       Colocando como sendo princípio fundamental da sua operação o conceito de sahaja (“co-emergência”), do fenomênico e do real, da integração vivida dos planos opostos, sem abolição da pessoa, mas sim na sua transfiguração no seio do Buda primordial, o tantrismo reintroduziu no budismo uma verdadeira dimensão panteísta e até monoteísta. O que nos mostra como o Vajrayana se afastou do budismo ateu das origens

           Bibliografia
   
    Alex Wayman – Budismo – História Religionum (II Vol.) – C. J, Bleeker – G. Widengren.    
    Jean Noel Robert – O Budismo, história e fundamentos – As Grandes Religiões do Mundo – Jean Delumeau.
   Monan Wijayarana – O Budismo nos países do Theravâda  – As Grandes Religiões do Mundo – Jean Delumeau.
   Jean Noel Robert – O Grande Veículo na Índia e no Extremo Oriente – As Grandes Religiões do Mundo – Jean Delumeau.
   Carlos Antonio Fragoso Guimarães – Buda e o Budismo  – Internet.
Wilkipédia/Budismo – Internet

    Logos – Enciclopédia Luso Brasileira de Filosofia.

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