O zoroastrismo é uma religião fundada na
antiga Pérsia pelo profeta Zaratustra (Zoroastro, em grego).
A
vida de Zoroastro é difícil de ser conhecida, pois os relatos de sua história
estão envolvidos em lendas e acontecimentos miraculosos. È provável que tenha
vivido no século VI a.C. e, teria sido não propriamente o fundador de uma nova
religião, mas um reformador das práticas religiosas indo-iranianas. Seu
ensinamento encontra-se principalmente nos Gatas
(parte do livro sagrado do zoroastrismo, o Avesta), e que se julga ter sido composto pelo próprio Zaratustra.
Zaratustra prega a existência de Ahura
Mazda, o Senhor Sábio; único
digno de adoração. Em oposição está um princípio mau Angra Mainyu ou Ahriman, que não deve ser visto como um deus, antes
como uma energia negativa que se opõe a energia positiva de Ahura Mazda (Spenta Mainyu).
Embora monoteísta, o zoroastrismo tem um aspecto dualista na luta entre
as forças do bem e as do mal. Note-se que o participar deste confronto deve ser
precedido por uma escolha livre.
Zaratustra propôs uma solução original ao problema do Mal, para ele Ahura Mazda engendrou dois espíritos
gêmeos, Spenta Mainyu e Anra Mainyu,
os espíritos “santo” e “destruidor”. Noutra tradição Zurvan substitui Ahura Mazda como
Deus principal sendo que este e Anra
Mainyu passaram a ser considerados filhos de Zurvan.
Da
entidade suprema Ahura Mazda derivam
seis espíritos, os Amesas Spenta
(Imortais Sagrados); por sua vez o
espírito do Mal faz emanar outros seis espíritos demoníacos.
Em
seu ensinamento Zaratustra nos diz que o Espírito Santo e o Espírito Destruidor
se tornam partidários do bem e do mal por decisão livre, o mesmo se dá com as
Entidades engendradas por Ahura Mazda e aquelas
seguidoras de Ahriman.
O
homem deve fazer a escolha entre o Bem e o Mal, tomando assim partido na luta
que constituí a trama da existência.
Para o zoroastrismo a matéria não é considerada um mal, como acontece no
maniqueísmo. Embora os valores espirituais sejam considerados superiores aos
materiais, estes não são maus e o homem deve lutar em favor do bem em sua
condição de membro participante do mundo material.
Religiosidade
Após muitos séculos em que encontrou seu apogeu no Império Persa, no
período dos grandes reis arquemênidas, quando se difundiu por todo o grande
império criado por Ciro, hoje o zoroastrismo sobrevive, principalmente, em dois
pequenos grupos; os Iranies habitando a região central do Iran (em torno de
Yazd e de Kerman) e os Parses habitando na Índia (na região do Gujerat e em
Bombaim).
A comunidade zoroástrica se divide entre o
sacerdócio hereditário (os filhos dos sacerdotes não são obrigados a seguirem a
vocação do pai) e o laicato, ou behdins “os
da boa religião”.
Sem serem obrigados a um número de orações
diárias, a maioria dos zoroastrianos reza várias vezes ao dia, invocando a
grandeza de Ahura Mazda. As orações
são feitas perante uma chama de fogo.
A iniciação a vida religiosa acontece
entre os sete e os quinze anos de idade quando os meninos e as meninas recebem
das mãos de um sacerdote, solenemente, o sudreh
(uma veste branca de algodão) e o kusti (um
cordão feito de lã) que ata na sua cintura. A parir deste momento o
zoroastriano deve usar sempre o sudreh e
o kusti.
Esta cerimônia de iniciação chamada naojot entre os parsis e sedre-pushum entre os iranies, é ocasião
de regozijo. O neófito, após passar por um banho ritual que antecede a
cerimônia, recebe roupas novas, para iniciarem completamente puros sua vida
religiosa; na ocasião é celebrada uma festa com a participação de parentes e
amigos que lhe oferecem inúmeros presentes.
Com esta cerimônia o indivíduo passa a
ser membro da comunidade religiosa plenamente; somente os sacerdotes passam por
ulteriores iniciações. Depois da iniciação comum a todos os zoroastristas, os
filhos dos sacerdotes começavam a apreender os textos litúrgicos do Avesta, assistindo diariamente a uma escola sacerdotal dos sete aos
catorze anos de idade.
A iniciação ao sacerdócio se celebra a
partir da idade de doze anos. Depois de ser interrogado pelo Gran Dastur e pelos sacerdotes
presentes, o candidato que superasse este exame, era admitido a verdadeira
iniciação. Para isso deveria passar duas vezes pelo barashnom (uma purificação ritual seguida de nove dias de retiro).
A seguir dois sacerdotes qualificados acompanhavam a cerimônia de iniciação propriamente dita durante quatro dias;
uma vez terminada a iniciação, o
neo-sacerdote é revestido com os ornamentos cerimoniais e toma em suas mãos um
cetro ornado com uma cabeça de touro; este cetro é o símbolo de Nihr, sob cujas ordens o sacerdote se
compromete a lutar durante toda a sua vida contra o Mal.
Com esta iniciação o neo-sacerdote está
autorizado a celebrar as cerimônias litúrgicas exteriores, mas, se aspirar a
ser yojdathragar, o “purificador”,
deverá continuar a ser instruído em todos os rituais das cerimônias interiores,
inclusive o longo ofício noturno do Vendidad.
Após receber estas instruções por uns dois anos, passa por uma segunda
iniciação sacerdotal de martab e
torna-se plenamente qualificado.
O sacerdote de grau inferior é o ervad, acima de si encontra-se o mobed e acima deste o dastur, responsável
pela administração de um ou de vários templos.
Atualmente o número de vocações ao sacerdócio tem diminuído bastante,
principalmente no Irã, pois os filhos dos sacerdotes têm dado preferência a uma
educação secular, o que causa apreensão quanto ao futuro do zoroastrismo.
O
celibato e o jejum não são bem vistos no zoroastrismo, pois ou impedem a
procriação, limitando assim o surgimento de novas vidas ou prejudica a saúde.
Já o matrimônio é celebrado com grande regozijo. As festas de casamento podem
prolongar-se de três a sete dias.
Práticas
funerárias: Os zoroastrianos acreditam que o corpo humano é puro, mas
quando uma pessoa morre seu cadáver é impuro. Uma vez que a natureza é uma
criação divina marcada pela pureza não se deve poluí-la com um cadáver. Esta
crença implicou que os cadáveres dos zoroastrianos não fossem enterrados, mas
colocados ao ar livre para serem devorados por aves de rapina, em estruturas
conhecidas como Torres do silêncio (dokhma).
Ritos e Sacrifícios
Para cultuar Ahura Mazda e outras entidades
que lhe são subordinadas, os zoroastrianos realizam orações, purificações,
ritos de iniciação, ritos fúnebres e festas
religiosas. Porém, o mais importante em seu culto são os sacrifícios.
Na antiga religião dos iranianos encontramos três tipos de sacrifício:
a)
Sacrifícios
sangrentos, nos quais são sacrificados animais. Zoroastro parece ter repudiado
este tipo de rito sacrifical, porém não é certo que condenara todo o tipo de
sacrifício sangrento. Em numerosas passagens do Avesta há testemunho de sacrifícios de animais.
b)
Haoma,
tão importante como o próprio fogo era o Haoma um licor sagrado, que possuía
propriedades embriagantes e alucinógenas, considerado uma bebida dos deuses que
procuravam à imortalidade. Sua preparação, o ato de ofertá-lo aos deuses e de
tomá-lo constituía na cerimônia principal do culto zoroástico Era costume
administrar-se o Haoma aos moribundos, como uma espécie de viático, alimento da
imortalidade. Embora condenando este rito quando associado á sacrifícios
sangrentos e orgiásticos, Zaratustra o tolerou e mesmo o fomentou em uma forma
mais pura.
c)
Fogo,
o sacrifício do fogo se constitui no centro e é o mais importante ritual de
toda liturgia zoroástrica, é presidido por sacerdotes que devem ser
integralmente puros.
Os zoroastrianos acreditam que os
ritos só são eficazes, quando executados por ministros “puros” e, se os
assistentes estão também “puros”, tanto no que se refere a bondade moral, como
com relação a pureza física, efetiva e ritual. Os leigos vigiam para que seus
sacerdotes sejam os “mais puros dentre os puros” de maneira que suas orações
sejam mais aceitáveis. O autêntico sacerdote zoroastriano, em conseqüência vive
uma vida consagrada.
Os templos religiosos do zoroastrismo
são conhecidos como templos de fogo. A parte mais importante destes edifícios é
a câmara onde arde o fogo sagrado, que é visitado pelos sacerdotes cinco vezes
ao dia. Estes procuram mantê-lo acesso, fazendo oferendas de sândalo purificado
e recitando orações.
O respeito pelo fogo sagrado fez com
que os zoroastrianos fossem chamados de “adoradores do fogo”, o que é um erro,
uma vez que o fogo não é adorado em si, mas como símbolo da justiça, sabedoria
e luz divina de Ahura Mazda.
Há três graus de fogo. O de grau
supremo que é chamado fogo Varhan ou
Atash Bahram, se guarda nos templos principais e recebe tratamento real:
sobre ele pende uma coroa; numerosos textos pahlevi chamam-no rei dos fogos e a
cerimônia de sua instalação recebe o nome de entronização. Deve-se manter
sempre aceso o fogo sagrado e deixa-lo extinguir-se é considerada uma ação
criminosa.
Além do fogo Atash Bahram, há os fogos de segundo grau, o Adaran suficientes para uma aldeia e os fogos de terceiro grau, ou domésticos, o Dadgah. Há dois Atash Bahram na Pérsia e oito na Índia.
O Atash
Bahram deve arder sempre com chama brilhante, inclusive à noite, e é
servido por um ritual muito elaborado. Só os sacerdotes plenamente iniciados
podem penetrar em seu santuário, onde unicamente se permite oferecer orações em
seu louvor. Entretanto, o fogo é visível desde fora através de aberturas nos
muros do santuário e outros sacerdotes e leigos podem então oferecer suas
orações e apresentar seus donativos, consistindo de madeira de sândalo e
perfume para o fogo.
Bibliografia
Historia Religionum –
vol. I – C.J.Bleeker-G. Widengren.
J. Duchesne-Guillemin – La
Religion del antiguo Iran
Historia Religionum – vol. II – C.J.Bleeker-G. Widengren
Mary Boyce – Zoroastrismo
Logos – Enciclopédia
Luso Brasileira de Filosofia
Evaldo Pauli –
Enciclopédia Simpózio
Wilkipédia/Zoroastrismo
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