Xintoísmo

O xintoísmo é a religião tradicional japonesa, estreitamente ligada a sua cultura e ao seu modo de vida. Xintó significa o “caminho dos deuses”.
   O xintoismo constitui um conjunto de crenças e práticas religiosas de tipo animista e expressa em manifestações sociais e atitudes individuais, embora não tenha fundador, escrituras sagradas oficiais ou dogmas. Neste sentido, o xintoismo é comumente classificado como uma religião que tem como características principais o politeísmo e o animismo.
    O xintoismo baseia-se no culto aos Kami, ao contrario dos deuses de outras religiões os Kami, não são onipotentes ou oniscientes, possuindo poderes limitados. Assim, até mesmo a deusa-sol Amaterasu O-mikami, originariamente divindade ancestral da casa imperial e sempre muito amplamente venerada pelo conjunto da população e que é considerada a mais eminente de todos os kami, não possui essência absoluta.
       As particularidades dos kami são a sua omnipresença e a sua grande diversidade. Há kami associados a lugares específicos: mares, águas, montanhas, florestas, rochedos, espaços limítrofes – fronteiras de aldeias, desfiladeiros e encruzilhadas. A sua existência é consubstancial ao território que ocupam, a tal ponto que se identificam com ele. Mas os kami não designam apenas lugares naturais, reinam sobre territórios celestes donde descem ocasionalmente. Aparecem igualmente como divindades ancestrais e podem também revestir de aparência de animais. Acontece, finalmente, serem considerados kami certos homens eminentes pelo seu saber ou pelo seu poder militar, elevados após a sua morte ao nível de divindades.
     O xintoismo não estabelece uma distinção nítida entre humanos e divindades, cujas relações traduzem antes uma idéia de continuidade. O homem é da mesma natureza dos kami, a quem deve a sua vida e a sua felicidade; daí está diante duma religião deste mundo, que se centra no homem vivente pleno e concreto inserido nesta vida que procura realiza-la ao máximo já aqui.
      A religião xintoísta dá grande importância ao mundo terreno. Apesar de os espíritos divinos e os antepassados residirem num mundo que se furta ao nosso olhar – localizado nas esferas celestes ou para além dos mares –, conservam, porém estreitas relações com o mundo dos homens.
      A natureza, tal como o homem, resulta dum ato criador dos kami. Por isso, ambos são irmãos, da mesma natureza das divindades. Daí que se depreende uma comunhão com a natureza, em harmonia e familiaridade, que leva o homem a inserir-se no mundo natural, lugar de profunda pureza e autenticidade. O homem, apesar de todo o seu avanço tecnológico, não possui poder pleno, e deve reconhecer seus limites com humildade, num espírito de coexistência pacífica.
     Há inúmeras divindades ligadas a elementos naturais, o que atesta que tudo é governado pelos kami. Logo a natureza reveste um caráter sagrado, regendo-se por uma vontade e sensibilidade próprias, por uma espiritualidade misteriosa, mais do que propriamente por leis naturais. 

O Culto xintoísta
    
     Os templos e o sacerdócio – O culto xintoísta é bastante rico e diversificado e sua prática tem a finalidade de se dirigir aos kami, para que escutem a oração dos fieis. As orações podem ter diversos sentidos: pedidos, ações de graças, promessas de ações futuras em favor dos homens e da sociedade, tentativa de aplacar a fúria dos kami, ou simplesmente para louvá-los.
     Através de vários elementos, os fieis podem estabelecer relação com os kami, relação muitas vezes de caráter filial, em que uma divindade é tutelar de dada região ou localidade. Os “paroquianos” estabelecem especial ligação com esse kami, que os atende e os protege, nos mais variados acontecimentos de sua vida.
     O santuário está na base da religião xintoísta. Ele é o lugar onde se fixa a divindade, mas também aquele onde se exprime o sentimento de uma ligação e de uma identidade partilhada. Ele permite pôr em contato os oficiantes encarregados dos ritos com a população local considerada seus “paroquianos”.
    Podemos distinguir três grandes tipos de santuários, conforme a abrangência que possuem.
– os de dimensão local, centros de partilha de uma comunidade reduzida.
– santuários de tipo particular, mas mais abrangentes procurados por motivos concretos e determinados. Este gênero de santuários encontra-se por todo o Japão.
– os grandes santuários nacionais, destino de peregrinação de milhões de pessoas todos os anos, dos quais o mais importante é o de Ise em honra da deusa Amaterasu, e que está diretamente ligado à casa imperial.    
   Os santuários têm a seu serviço um número variável de sacerdotes que neles oficiam de vários modos. São designados pelo termo kannushi, “pessoa que pertence ao kami”, ou shintoki, “pessoa cuja profissão é servir a divindade”.
    A sua principal função é a de servir e adorar os kami e servir como um elo entre eles e os crentes através da execução dos ritos nos santuários, visando assegurar a proteção ao povo japonês e ao imperador. 
    No xintoismo o sacerdócio é aberto às mulheres. Para além de sacerdotisas, as mulheres podem ainda ser mikos. Uma miko é uma virgem que leva uma vida monástica, ajudando os sacerdotes a executar os ritos nos templos e executando as danças sagradas.
    A mais elevada categoria de sacerdotes é a de princesa consagrada ao kami, uma princesa virgem da família imperial. Em seguida, temos o Grande Sacerdote, à frente de cada santuário, e depois os demais sacerdotes que se repartem por funções diferenciadas. Os sacerdotes, uma vez consagrados, mantêm as suas funções toda a vida, mesmo não sendo obrigados a exercê-las; não são obrigados a levar uma vida de castidade, podendo casar e constituir uma família, o que geralmente fazem.
    As vestes sacerdotais apresentam grande beleza artística, mas só são utilizadas nos santuários e em ocasiões especiais na rua. Fora das funções rituais, os sacerdotes não usam qualquer tipo de sinal exterior que os distinga dos leigos.         
   Festas e Celebrações – Os xintoístas comemoram um grande número de festas, com uma grande variedade de costumes e de motivos para celebrar. As festas podem ser comunitárias, respeitantes à população em geral, e particulares, de âmbito mais pessoal e familiar.
    Cada santuário, uma ou duas vezes por ano, celebra uma data festiva, relacionada com o kami ou com o templo. Durante estas festas, também chamadas shinkó-sai, ocorre geralmente uma procissão dos kami. A finalidade deste ato é simplesmente entreter e divertir a divindade, pedindo-lhe, ao mesmo tempo, que continue a dispensar a sua proteção.
     São realizadas igualmente festas por ocasião das diferentes estações do ano e para comemorar dias feriados, tais como o Ano Novo, a Fundação da Nação, o dia de Respeito pelas Pessoas Idosas, o aniversário do Imperador entre outras.
     Os vários momentos da vida humana, muitas vezes ligados a ritos de passagem, são ocasiões para realizar um tipo de festas de motivação mais pessoal, realizadas no seio da família. 
      Ritos matsuri e ritos de purificação – os ritos matsuri (que basicamente significa adorar) são ritos para atrair os kami até os locais em que se realizam as cerimônias, assim como os ritos destinados a acalmá-los e solicitar-lhes a concessão de favores.
      O matsuri é o rito xintoísta mais difundido e colorido. Sua estrutura fundamental consiste em duas partes: em primeiro lugar, o sacerdote oficiante, purificado previamente, recita as invocações adequadas para que o kami desça ao yorishiro, que frequentemente é uma vareta ritual adornada com bandeirolas de papel branco, que fora colocada no recinto sagrado. Tendo o kami descido, fazem-se as devidas oferendas propiciatórias, entre as quais sempre se incluem diversos tipos de bebida e de alimento.
     Antigamente, a segunda parte do rito adotava um convite dirigido ao kami para dar respostas às perguntas que lhe eram dirigidas; o oráculo era obtido frequentemente através de uma miko (um médium feminino).
     O matsuri podia incluir um banquete comunitário, no qual os devotos compartilhavam o alimento com seu deus. Podendo haver também música e danças.
      O segundo rito do culto xintoísta é o da purificação. Os kami não suportam a impureza, pelo que se exerce sempre um conjunto de práticas purificadoras antes do culto propriamente dito, que tornam puros os participantes, os objetos e as oferendas. Os ritos de purificação assumem três formas distintas.
·       o misogi, que consiste na purificação através da água. Ao banhar-se ou lavar-se na água, o fiel xintoísta obtém a purificação das impurezas, tanto das voluntárias como das involuntárias.
·       o harai, que é um tipo de purificação algo próximo do exorcismo. É realizado por um sacerdote, que agita sobre o que deve ser purificado ramos da árvore sagrada, sakaki, ou uma vara com tiras de papel penduradas, ónusa. Por este meio, obtém-se a purificação de todas as manchas, corpóreas e espirituais, bem como o afastamento de todas as influências malignas. Duas vezes por ano realiza-se uma purificação solene ou grande exorcismo, o chamado o-harai.
·                  O imi, que é um período de jejum a ser realizado antes das cerimônias. Tem duração diferente, conforme a importância do rito. Este tipo de purificação é principalmente realizado pelos sacerdotes.

     Na sua vida diária, todo o fiel xintoísta tem a obrigação de prestar homenagens aos Kami, o que pode ser realizado nos mais variados lugares e ocasiões, desde a casa até ao templo passando pelo campo ou pela rua.  
     Em sua casa, os fiéis têm geralmente um pequeno altar doméstico, onde colocam vários amuletos e onde, todas as manhãs, são feitas oferendas (saquê, arroz, sal). Acende-se uma lamparina e fazem-se orações aos Kami.
     Peregrinações – Os japoneses apreciam peregrinar, ganhando méritos pela austeridade e pelas privações. Durante estas peregrinações são visitados diversos santuários, onde se adquirem amuletos que servem de recordações.       

         Bibliografia

    Carmen Blacker – Religiões do Japão – História Religionum (II Vol.) – C. J, Bleeker – G. Widengren.    
    Jean Pierre Berthon – O Xintoismo – Referências históricas e Situação Atual – As Grandes Religiões do Mundo – Jean Delumeau.
   Masanori Toki – O Xintoismo, Religião Étnica do Japão – As Grandes Religiões do Mundo – Jean Delumeau.

Wilkipédia/xintoismo - Internet

Nenhum comentário:

Postar um comentário