Se considerarmos a religião apenas como uma
Igreja hierarquicamente constituída com seu clero e sua estrutura jurídica, o
confucionismo não é uma religião; mas, se voltarmos nossa atenção às crenças em
entidades sobrenaturais e em espíritos, então sim o confucionismo pode e deve
ser reconhecido como uma autêntica religião.
Os elementos religiosos do confucionismo têm sua origem na antiguidade
chinesa. O povo chinês sempre teve um forte sentimento de dependência à poderes
e espíritos que escapavam a seu domínio e que causavam o medo e a piedade.
Confúcio e Mencio compartilhavam esta consciência de dependência de poderes
espirituais, que tinha profundas raízes no povo. Adotaram a crença tradicional
no Céu “T`ien”, que governava aos
homens e à natureza.
T`ien, o Deus do Céu, não é
criador, porém, vigia o cumprimento das exigências morais por parte dos homens
e as correspondentes leis da natureza; também reparte prêmios e castigos. Ao
lado do Deus do Céu encontra-se a Deusa da Terra e, a união dos mesmos se
converteu nos progenitores simbólicos do imperador.
Sendo o imperador considerado descendente do Deus do Céu, é ele que
devia ofertar-lhe os sacrifícios. Igualmente os Senhores feudais que
identificavam aos deuses da natureza (o deus do solo e o deus do grão) como
sendo seus próprios antepassados, ofertavam sacrifícios a estes deuses
inferiores.
O Imperador era soberano não só dos homens, mas, também dos deuses (exceto
do Céu e da Terra). Isto quer dizer que tinha autoridade para admitir novos
deuses, no panteão oficial: podia nomear promover e destituir deuses, desde que
estas decisões fossem tomadas com o assessoramento do Ministério dos Ritos.
Os Ritos e sua
importância.
Os ritos estão no centro do confucionismo. Confúcio com uma inigualável
agudeza de analise, elaborou a respectiva teoria e desenvolveu os seus
mecanismos, para torná-los instrumentos por excelência da ordem social.
A ritualidade social não é exclusiva do confucionismo, O que lhe é
próprio é a sabia extrapolação da ritualidade religiosa para o controle de
todos os comportamentos sociais.
Os ritos não são válidos quando não praticados com sinceridade. Confúcio
efetuava os sacrifícios como se os espíritos ali estivessem, e dizia; “Se eu
não tomasse parte do fundo de mim mesmo no sacrifício, seria o mesmo que não
haver sacrifício.”
Confúcio nos ensina também que “Se o povo for conduzido apenas por meio
de leis e decretos impessoais e se forem trazidos à ordem apenas por meio de
punições, ele apenas procurará evitar a dor das punições, evitando a
transgressão por medo da dor. Mas se ele for conduzido pela virtude e trazido à
ordem pelo exemplo e pelos ritos em comum, ele terá o sentimento de
pertencer a uma coletividade e o sentimento de vergonha quando agir contrario a
ela e, assim, bem se comportará de livre e espontânea vontade”.
Confúcio baseava-se num critério realístico, onde a prática do
comportamento ritual daria possibilidade real aos praticantes de sua doutrina
de viverem em harmonia. Mestre
Kung zi (Confúcio) pregava que cada um cumprisse com seu
dever de forma correta.
Sua escola foi sistematizada nos seguintes princípios:
· Ren, humanidade
(altruísmo),
· Li cortesia ritual,
· Zhi, conhecimento ou
sabedoria moral,
· Xin, integridade,
· Zhing, fidelidade,
· Yi, justiça, retidão,
honradez.
Os Ritos do Culto
“De
uma forma geral, na via do governo dos homens nada é mais indispensável que os
ritos.” (- - -) “O culto não é algo que se impõe de uma prescrição exterior: é
um gesto que brota do mais profundo do coração. É a dor de coração de termos
perdido os nossos defuntos que faz com que os honremos através dos ritos. No
sentido profundo do culto, só o sábio pode penetrar”.
É
característica da tradição chinesa, na execução dos rituais, a ausência dos
sacerdotes. Numa tradição em que o culto dos antepassados ocupava o principal
lugar, a função religiosa essencial – a de executor do sacrifício – sempre foi
exercida pelo chefe da família, mesmo no que dizia respeito ao culto dirigido a
entidades sobrenaturais diversas dos antepassados defuntos, sendo então
estes associados aos destinatários das
oferendas na qualidade de mediadores. O único verdadeiro interlocutor dos
espíritos, e que a eles se dirigia por intermédio do sacrifício, em lugar de
ser um sacerdote especialmente iniciado nos mistérios divinos e que se
dedicasse a elaborar cada vez mais eruditamente o seu teor, era afinal um homem
a quem era entregue essa função pela sua posição de chefe de família. Este, chamado
“mestre do sacrifício” recebia a assistência de muitos auxiliares especializados
nas diversas funções que constituíam os ritos.
Na China imperial, o sacrifício mais augusto era oferecido solenemente
pelo próprio imperador, assistido por grande número de súditos especializados
em assuntos rituais. Esta cerimônia era celebrada em lugar destinado ao
sacrifício ao deus do Céu, no sudeste da capital imperial, durante a noite do
solstício do inverno.
A preparação desta cerimônia durava vários dias e consistia na inspeção
dos animais destinados ao sacrifício, em certas purificações rituais e num
período de jejum e abstinência. As oferendas mais antigas e mais nobres eram um
disco de Jade (P`i), que representava
o Céu e um bezerro. Doze peças de
seda azul com símbolos do zodíaco, que correspondem a vestidura imperial, são
de origem mais recente.
Deve-se notar que nos rituais confucionistas nunca se representam as
divindades e os espíritos por imagens. Uns e outros apenas são representados
por tabuinhas onde se escrevem os seus nomes.
Durante a cerimônia aos lados da tabuinha que se supunha ser ocupada
pelo Deus do Céu, se colocavam as tabuinhas dos antepassados das dinastias,
para que também participassem no rito sacrifical que se desenvolvia em nove
atos solenes. Iniciava-se colocando o P`i e as doze peças de seda sobre o altar
e terminava com a despedida dos antepassados do Imperador e a queima das
oferendas.
Na área suburbana, ao norte da capital, por ocasião do solstício de
verão, se celebrava o sacrifício ao Deus da Terra, um sacrifício semelhante ao
que era oferecido ao Deus do Céu. Nos distritos rurais o Mandarim, em nome do
Imperador, oferecia sacrifício ao deus de seu próprio distrito.
Muitos sábios e heróis foram divinizados,
sendo que entre estes o fato mais notável foi à divinização de Confúcio. O
celebrante do sacrifício em honra a Confúcio era o Imperador que podia delegar
este ofício a seus súditos, como no caso dos sacrifícios ao Céu e à Terra. As
oferendas consistiam em seda, vinho, caldo e como sacrifício mais nobre, um
boi. A introdução faz alusão à importância pedagógica e moral de Confúcio
quando a congregação canta “Grande é, certamente, Kung-tzu. Mais que nenhum
outro possuiu conhecimento e sabedoria. Ele é o terceiro ao lado do Céu e da
Terra...”.
Pelo que sabemos Kung-tzu não teria aprovado semelhantes cerimônias em
honra de sua pessoa. Ele teria considerado como sendo uma forma estranha do
culto aos antepassados e teria demonstrado sua desaprovação com as seguintes
palavras: “Sacrificar aos espíritos que não são os de seus próprios mortos, é
pura adulação.”.
A conexão entre o culto da natureza e o culto dos antepassados, teve
papel importante na própria cidade natal de Confúcio “Ch`u-fu”. Confúcio foi identificado com a divindade local, assim
foi elevado acima da esfera do culto dos antepassados, que permaneceu reservado
à sua família e aos seus discípulos mais próximos.
O Culto dos
Antepassados
Quanto
ao homem, o culto principal é o culto dos antepassados, que é o mais importante
de todos para o ritualismo, ainda que as suas cerimônias não atinjam toda a
magnificência do grande sacrifício ao deus do Céu. O culto dos antepassados é o
sustentáculo ritual da organização social, é o instrumento de hierarquização
familiar, modelo da hierarquização social.
Na
família são considerados muito importantes os costumes relacionados com o luto,
já que reúnem todos os que dependem das bênçãos que se esperam do defunto. Nos
funerais o papel mais importante cabe à esposa e ao filho mais velho. Concluído
os funerais considera-se honroso a celebração freqüente de sacrifícios em
louvor aos antepassados. Estes ritos se celebram no pátio da casa e no templo
do clan.
Devido a esta constante preocupação pelos mortos, estes permanecem vivos
na lembrança dos vivos e não morrem no sentido de serem completamente
esquecidos. Todos os acontecimentos importantes da vida familiar devem ser
participados aos antepassados na devida forma.
Bibliografia
Hans Steininger – Religiões da China
(Confucionismo) – História Religionum (II Vol.) – C. J, Bleeker – G.
Widengren.
Leon
Vandmeersch – O Confucionismo – As Grandes Religiões do Mundo – Jean Delumeau.
Carlos
Antonio Fragoso Guimarães – Confúcio, a Ética do Saber – Internet.
Wilkipédia/Confucionismo
– Internet
Logos – Enciclopédia Luso Brasileira de Filosofia.
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