O Hinduismo, como religião, não expressa uma
idéia definida ou unitária. Não há uma prática religiosa ou um dogma que se
possa dizer universal ou essencial no hinduismo. No hinduismo a vida é
considerada como uma totalidade integrada em seus diferentes aspectos,
inclusive no religioso, como intrinsecamente interdependentes.
O
hinduismo, uma religião sem fundador humano, basei-a-se em textos, que todos
consideram emanados do absoluto divino que se comunica livremente ao homem.
Entre estes textos os mais importantes são os Vedas e os Upanishads.
Como
a prática religiosa dos hindus é muito variada, dependendo de diversos valores
sociais e familiares, consoante o olhar que lhe lançarmos, a Índia religiosa
poderá surgir como politeísta, como panteísta, ou até como monoteísta.
Politeísta, sem dúvida, devido a abundante diversidade de cultos (pûjâ) prestados a inúmeros deuses e
deusas. Politeísmo é certo, mas de caráter fluido: as múltiplas entidades que,
por esta ou aquela razão, são objeto de certo culto possuem uma individualidade
tão débil e tão indefinida que se fundem facilmente ou se transformam umas nas
outras.
O
monoteísmo hindu reveste-se de aspectos muito especiais. Com efeito, tudo se
passa como se o hindu pudesse virar-se sucessivamente, e com toda a sua alma,
pelos diversos deuses esquecendo provisoriamente os outros. Os deuses são
sucessivamente exaltados e promovidos ao nível de divindade suprema.
Quanto ao panteísmo hindu, entendido como sentimento da presença ou da
difusão universal da divindade através dos seres, de tal maneira que os “emite”
ou “retrai” alternadamente, domina não só o discurso dos Upanishads, mas também o da literatura devocional. As divindades
são sentidas não tanto como figuras completas, mas como modalidades locais e
temporárias da presença entre nós de um divino em si mesmo informe e, por isso
mesmo, capaz de todas as metamorfoses.
Os
hindus acreditam em Brahma, o principio mais geral da realidade do mundo como
um todo, com caráter de ser indeterminado, (Brahma
nir-guna), porém capaz de ser determinável (Brahma sa-guna).
A
reflexão pode levar-nos a pensar a coincidência em brahman da sua dimensão de transcendência absoluta, para além do
tempo, com a sua dimensão de imanência do mundo criado. Esta reflexão nos leva
a concepção de um brahman pensado
como a circularidade de um processo eterno de criação-conservação-destruição do
universo. Esta concepção tomará a forma da tri-mûrti
na qual Brahma preside à criação; Vishnu
à conservação; Shiva à destruição.
As Grandes figuras
divinas
Na
religião hindu a supremacia dos cultos à Vishnu
e à Shiva nunca foi contestada. Não formam propriamente uma díade: é-se
visnuita ou sivaíta, mas nunca as duas coisas ao mesmo tempo. Inversamente,
também nunca Vishnu e Shiva são completamente exclusivo um do outro. Não só
figuram lado a lado na trimurti, como
cada um ocupa sempre um lugar, por exemplo, de “regente cósmico”, no panteão
que se organiza ao redor do outro.
No
culto a Vishnu o sacrificador era o rei (ksatrya),
enquanto que o sacrifício propriamente dito era executado por um colégio de
oficiantes a testa dos quais estava o sacerdote brâmane. A prosperidade
dependia ao mesmo tempo da abundância das vítimas e oferendas diversas obtidas
pelo sacrificador e da execução correta dos ritos. Vishnu simboliza
precisamente a harmonia ideal do par sacerdote-sacrificador ou brâmane-rei.
Está, portanto, simultaneamente ligado à supremacia espiritual dos brâmanes e à
boa ordem (dharma), garante da
estabilidade social e da prosperidade.
Vishnu é um deus das castas elevadas; é
um deus “puro”, a quem os fiéis apenas apresentam oferendas vegetais. O
essencial da sua mitologia refere-se às suas descidas periódicas, assumindo a
forma de avatares, para restaurar o dharma ameaçado pela fraqueza humana e pelos empreendimentos das forças do mal.
Shiva, por seu lado, encarna na sua
pessoa o conjunto das forças obscuras, ambíguas, quando não maléficas, cuja
operação pode ser desencadeada pelo sacrifício. Enquanto Vishnu é fonte de ordem, de pureza e de harmonia, Shiva surge como o deus “selvagem” por
excelência, o que despreza todas as distinções e todas as hierarquias sociais. Shiva é venerado, sobretudo pelos
ascetas pela intensidade de suas austeridades e, também pelo seu desprezo pelas
convenções sociais.
Os
mais altos valores reconhecidos pelo hinduismo estão ligados à atitude ascética
e à superação da condição humana que ela pretende alcançar. Mas a Renúncia (sannyâsa), apenas se compreende em
relação ao dharma.
O dharma é o conjunto das relações
inteligíveis, das leis subjacentes ao universo e que o impedem de desmoronar no
caos. O dharma é a crença central do hinduísmo como um todo e, portanto, de sua
religião. Acrescente-se a crença na lei do Karman
segundo a qual nossos atos bons ou maus produzem frutos nesta vida ou em
vidas futuras e é o efeito das nossas experiências e dos nossos atos
anteriores. Esta crença afirma que os seres transmigram através de uma
infinidade de vidas, o sansâra.
Existe a esperança de uma libertação sem regresso, a moksa pela reabsorção da alma individual na Alma universal, a da
divindade. Estas crenças estão na base de todo e qualquer ato de veneração e de
devoção aos diversos deuses.
Ritos e Sacrifícios
Um
grande número de hindus é vegetariano e se abstém de bebidas alcoólicas ou
excitantes. Porém, existem graus na prática do vegetarianismo; alguns se
permitem comer ovos, e até peixe, e em último caso frango. O que é impensável é
o consumo de carne de vaca. È conhecido entre os hindus seu culto em relação a
vaca, considerada pela maioria como um animal sagrado.
Nos hinos védicos e no conjunto da literatura védica os rebanhos de
bovinos são frequentemente mencionados por constituírem o gado sacrificial e o
grande espólio de guerra. Quanto à vaca, ela é apreciada não apenas por seu
valor econômico, mas também por sua função ritual indispensável no seio do
sacrifício védico. O sacrifício animal constituía o elemento central da
religião védica.
Matar por ocasião dos sacrifícios não é matar, e é permitido comer a
carne sacrificial. Não é de se espantar, que nos tempos védicos, se descubra
que a vaca faz parte da lista das vitimas dignas de ser imoladas nos
sacrifícios solenes védicos, ou ainda que os sacerdotes oficiantes brâmanes,
assim como o sacrificante, consumam a carne desse animal depois de oferecida.
É
importante notar-se que o bramanismo (hinduismo) é ritualista, isto é, a
cerimônia tem eficácia por si mesma, independentemente da crença. Em outras
palavras o importante é a execução do rito, não a intenção com que o mesmo é
executado.
A
mais popular forma de expressão de amor a Deus na tradição Hindu é através da puja, ou ritual de devoção que pode
utilizar o auxílio de murti (estátua)
juntamente com canções ou recitação de orações em forma de mantras. Os hindus cultuam seus deuses através de fotos ou imagens que
consideram como símbolos das divindades, não adoram as imagens em si
mesmas.
Entre
as inúmeras práticas devocionais dos hindus, o culto à imagem é uma das mais
generalizadas. Após prepararem-se a imagem de uma determinada divindade
adornando-a com belas flores e perfumando-a, esta é colocada no santuário,
enquanto se entoa melodias sagradas e se efetua a puja (adoração). O pessoal do templo está composto pelo clero e os
sacerdotes domésticos.
Antes de proceder ao ato de adoração o devoto deve guardar alguns
requisitos prévios, como a ablução, o jejum, o controle respiratório, etc. O
adorador deve purificar-se antes da puja.
Existem também ritos pessoais, os samskaras
ou sacramentos: o nascimento, a iniciação brahmânica, o casamento e a
morte.
As
festas ou festivais são celebradas no templo ou nos arredores. São as mais
notáveis o Festival das Luzes, o Festival da Primavera e o da deusa Durga.
Nestas nossas considerações queremos encerar citando o Bhagavad-Gita, ou “Canto dos
Bem-Aventurados” Sendo em princípio apenas um episódio do Mahâbhârata – constitui-se na prática um dos textos chaves do
hinduismo: é que o “cocheiro” é Krsna
(Avatar de Vishnu) em
pessoa. Reunindo e ordenando todos os caminhos de salvação já
conhecidos, a Gita propõe mais um: a
oferenda de nós mesmos pelo cumprimento desinteressado daquilo que o
nascimento, a idade, o sexo, etc., nos impõe em matéria de “dever de estado”.
Bibliografia
R. N. Dandekar – Hinduismo – História
Religionum (II Vol.) – C. J, Bleeker – G. Widengren.
Michel
Hulin e Lakshmi Kapani – O Hinduismo – As Grandes Religiões do Mundo – Jean
Delumeau.
Prof.
Evaldo Pauli – História da Filosofia Moderna – Filosofia na Índia até o século
dezesseis – Enciclopédia Simpózio
Wilkipédia/Hinduismo – Internet
Hinduismo – Generalidades – Internet
Logos – Enciclopédia Luso Brasileira de
Filosofia.
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