Tauismo

Ao focalizarmos o estudo das influências religiosas no pensamento chinês, no que se refere às religiões na China deparamos com três que desempenham importante papel: o confucionismo, o budismo e o tauismo.
      Enquanto o confucionismo considerava o homem meramente como membro da sociedade familiar e como um animal social no estado; o budismo e o tauismo com suas doutrinas sobre a redenção, responderam melhor as necessidades religiosas do povo.
      Em contraste com o budismo, que afirma que a vida é sofrimento e que exige ao homem para alcançar a libertação que “morra” as coisas deste mundo; o tauismo, afirma que a vida é valiosa e que se deve gozar dela retamente e que é bom prolonga-la.
      Existem importantes diferenças entre a filosofia tauista (Tao Chia) e a religião tauista (Tao Chiao). A partir de agora vamos nos dedicar a considerarmos apenas a religião taoista.
       O tauismo permanecendo, frequentemente, à margem da administração imperial e muitas vezes em oposição a ela, tornou-se assim a grande religião popular da China. Foi ele que forneceu as suas estruturas litúrgicas às massas  Chinesas.
       Os chefes locais, os anciãos que estavam a testa das aldeias, encontraram na iniciação e no rito tauista a consagração que legitimava o seu poder e a organização social do país. O tauismo continua a ser o guardião de uma moral que tanto estimula a liberdade, como também, a responsabilidade individual.
       Em lugar das verdades reveladas que constituem os fundamentos de tantos sistemas religiosos, o tauismo nada propõe a não ser um paradoxo: todos conhecem o Tau e, contudo ninguém o conhece. O Tau é indefinível.   
     
O Tau e a criação do universo

     “O tau, perpetuamente, não atua; porém por ele tudo é feito”. O Tau não é o Um; faz nascer o Um, pode ser o Um, e depois pode fragmentar esta unidade, dividi-la. O sol e a lua são as manifestações por excelência da dualidade complementar que atravessa toda a criação expressa pelo Yin e pelo Yang que se opõem permanentemente. Da sua dinâmica dual resultam as transformações de toda a criação. A sua ação é cíclica: quando o yin atinge o seu apogeu, transmuta-se em yang, e vice versa.
      Para o tauista o universo não é concebido como obra de um Deus criador, nem como o resultado de uma intervenção especial; é um devir espontâneo, em perpétua mudança “por si mesmo”.
      Antes do céu e da terra houve o caos primordial, um estado confuso e indiferenciado, um puro “múltiplo”. A influência do Tau a que o caos está sujeito também não é um absoluto, mas uma ação (de), um constante devir.

O Panteão Taoista

       Muito embora o panteão taoista, a partir da era Han estabelecera uma rígida ordem hierárquica, esta mudou constantemente e variava de uma para outra seita. É importante notar-se que os deuses taoistas não regem o mundo, mas se limitam a administrá-los.
       No século V foi concebida a suprema trindade dos deuses, “os Três Puros”. Estes deuses estão dentro do corpo do indivíduo, mas ao mesmo tempo são deuses redentores de todos os homens. São os seguintes:
1.     – A divindade primeira e suprema é o Ancião Celeste da Origem Primordial – É uma hipóstase do Tau e capaz de ler a primeira revelação em “caracteres de Jade”.
2.     – A segunda divindade é o Senhor das Jóias Sagradas, que transmite a sabedoria superior aos deuses inferiores.
3.     – A terceira é Lao-tzu, o Nobilíssimo Senhor Lao. Revela o ensino do Tao aos homens que foram aceitos como dignos e que entraram na lista dos imortais.
     No tauismo encontramos três tipos de divindades: a) das forças naturais; b) dos conceitos metafísicos; c) dos homens que são os mais conhecidos através das lendas e do teatro; sendo os preferidos pelo povo para louvá-los e quando procuram auxílio e proteção.
      Inúmeros são as divindades cultuadas no tauismo, inclusive os deuses locais (protetores de diversas comunidades) e todos os bodhisattva do panteão búdico e os sábios confucionistas. Segunda uma lenda antiga, Confúcio foi discípulo de Lao Tsé e Buda uma sua reencarnação.
       Esta união das três doutrinas é elevada no nível de princípio. Não se trata de um sincretismo, mas de uma tentativa de integração que parte da idéia de que toda verdade intelectual é apenas parcial, de que o verdadeiro é verdadeiro em toda a parte e deve, pois encontrar-se em todos os sistemas.
       O panteão dos santos é vastíssimo e organizado como um governo metafórico. Assim o tauismo dota-se do seu próprio reino, cada região tem os seus próprios santos, mas numerosos entre eles são cultuados nacionalmente. O tauismo não rejeita santos provenientes de outras religiões, mas, os adota argumentando que ao entrarem no panteão tauista subscreveram o Contrato Puro, isto é, renunciaram aos sacrifícios sangrentos. Assim o tauista salva os deuses, o que é para ele quase tão importante quanto salvar os homens.
        A via do santo pressupõe um comportamento altamente moral, quanto mais não seja para manter a harmonia no universo interior. A moral é um dado natural, pois a criação é perfeita e o homem fundamentalmente bom.
        Aí reside a via do santo. Ela consiste em “observar o Um”, em preservar a unidade entre os diferentes elementos do corpo e do mundo. Nunca perder essa unidade permite ao homem durar indefinidamente, adaptar-se as alterações cíclicas. Este domínio dos tempos confere a qualidade de xian, de Imortal.
        A felicidade suprema para um tauista consiste em alcançar a longevidade ou a imortalidade neste mundo.

A Igreja Tauista

        O tauismo nunca conheceu verdadeiras instâncias dirigentes. Apresenta-se como uma constelação de comunidades federadas, na sua maioria laicas.
        Após a nova parusia de Lao Zi no ano de 142, desenvolve-se o movimento do Mestre Celeste, sendo que Zhang Daoling tornou-se um santo nacional sob o título de Primeiro Mestre Celeste. Existiram outros movimentos, mas que são bem menos conhecidos.
       Foi quando a ordem aristocrática da grande dinastia dos Han se aproxima do fim que os anais mencionam pela primeira vez a diocese do Mestre Celeste, que substitui a autoridade imperial nas regiões onde esta já não consegue sustentar-se.
       As comunidades se organizam em torno de um lugar de culto, um lugar santo regional (idealmente uma montanha sagrada), onde se ergue um santuário graças aos esforços de toda a comunidade.
        O templo é uma casa comum. Os anciãos vão lá todos os dias para discutir os assuntos correntes; as avós, vão lá oferecer incenso e alimentar as lamparinas; as associações de música, de teatro, de artes marciais, de papagaios de papel e outras têm lá a sua sede e nichos para seus próprios santos.
        O objeto mais importante que se encontra no templo não é a imagem da divindade, mas o defumador para queimar o incenso. Para o tauismo o ato de queimar o incenso tem o sentido de purificação, não o de sacrifício.
       O rito essencial consiste em fazer uma oferenda de incenso, o instrumento litúrgico mais importante é, pois o defumador. Todos os anos a comunidade escolhe um “chefe do defumador”; colocado a cabeça dos fiéis, que se definem como “servidores do defumador”. 
       Entre as numerosas festividades que se celebram nos templos destacam-se as chamadas festas de Chiau, que servem para salvaguardar a unidade religiosa durante o ano eclesiástico. Em Taiwan a liturgia mais importante destas celebrações está a cargo dos Tao Shih, (sacerdotes do Tao). 
       O sacerdote deve conhecer de memória os textos litúrgicos e ser um virtuoso tamborileiro. As diferentes partes de cada ato litúrgico se regulam a golpes de tambor e o tamborileiro deve ser um sacerdote. As danças rituais são acrobáticas e os textos sagrados cantados. As passagens mais importantes são lidas pelo sacerdote principal que entre outros requisitos deve estar casado e ter-se preparado por muitos anos para ser ordenado.
       A liturgia tauista toca todos os aspectos e as fazes importantes da vida.  
                
Bibliografia

    Hans Steininger – Religiões da China (Tauismo) – História Religionum (II Vol.) – C. J, Bleeker – G. Widengren.    
    Kristofer Schipper – O Tauismo – As Grandes Religiões do Mundo – Jean Delumeau.
   Carlos Antonio Fragoso Guimarães – Lao-Tse e o Tauismo – Internet
Wilkipédia/Tauismo – Internet

    Logos – Enciclopédia Luso Brasileira de Filosofia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário