Cristianismo

A crença na Trindade e na Encarnação de Cristo são os dogmas fundamentais do cristianismo e que o distingue das demais religiões.
    O cristianismo teve sua origem no judaismo, com o qual manteve um íntimo relacionamento de mútua influência. A esperança de um messias que viria para libertar o povo judeu de seus opressores, para os cristãos se realizou na pessoa de Jesus de Nazaré, o que não foi aceito pelos judeus.
     Na época Israel estava sob o jugo romano e, em suas relações com Roma, as diferentes seitas judaicas tiveram diferentes atitudes: os saduceus se submetiam e tomavam partido da situação; os fariseus se colocavam em oposição, tanto quanto aos romanos, como quanto aos saduceus; os zelotas radicalizavam sua oposição, inclusive tomando em armas e pregando a luta armada contra os romanos; enfim, os essênios, ao que parece permaneciam alheios a estas disputas.
     Os cristãos que pregavam um messias espiritual, não um messias temporal e guerreiro se aproximavam mais dos essênios e, combatiam os fariseus aos quais acusavam de hipócritas, mas desenvolviam toda uma doutrina própria, baseada nos ensinamentos de Jesus, o Cristo.
     Paulo de Tarso converso do farisaísmo ao cristianismo e outros discípulos de Cristo pregaram, converteram e disseminaram a nova doutrina por todo o Império Romano.
     Em sua difusão, o cristianismo nascente não só conquistou muitas conversões, mas também, sofreu influência das diferentes religiões que existiam no Império Romano, principalmente, em seu culto e na liturgia.
     Indiscutível foi a influência do zoroastrismo não só no cristianismo, mas também no judaismo e no islamismo. Mas, mais do que sua influência direta, gostaríamos de assinalar sua influência através de religiões que tiveram sua inspiração no zoroastrismo, entre estas:

1)     Orfismo – denominação da forma grega da religião desenvolvida por influência persa, pelo sacerdote tessálio Orfeu. A ele se atribuem os assim chamados mistérios órficos.

2)     Pitagóricos e neopitagóricos continuaram os exercícios das praticas órficas, como os ritos de purificação e a unção dos enfermos.
         Os cristãos foram afetados logo de início através     dos neopitagóricos e dos neoplatônicos pelos       mistérios órficos.

3)     O Mitraismo desenvolveu especialmente o culto ao Deus Mitra, interpretado como um intermediário entre os seres humanos e o Deus supremo.
   Entre o cristianismo e o mitraismo havia muitas analogias. Os rituais incluíam um banquete sagrado de pão e água, com ligeira mistura de vinho. Os neófitos se sujeitavam as diferentes provas, além do segredo sobre os mistérios. Somente no final eram admitidos ao banquete sagrado, que guardava semelhanças com aquele dos cristãos. Nos templos de Mitra eram celebrados ofícios sagrados a luz de vela e toque de sinos.
    Finalmente, o Natal cristão passou a ser comemorado no mesmo dia do natal de Mitra no dia 25 de dezembro, inclusive com a adoração dos pastores.

4)     O Maniqueísmo veio da Pérsia como seita de fundo pagão, com empréstimos tomados ao cristianismo. Foi Manes o seu mais destacado pregador de quem derivou seu nome. Na Idade média refloriu com os cátaros e os albigenses.
        O maniqueísmo ensinava a existência de dois princípios eternos, o da luz e o das trevas em luta entre si. As emanações de ambos se mesclavam no homem. Jesus e Manes foram enviados, em corpo de mera aparência para separar as mesclas.
        Agostinho de Hipona antes de sua conversão simpatizou-se com o maniqueísmo.

O Culto na Igreja Primitiva

       No princípio, os ritos cristãos se centralizavam em torno de três núcleos: o batismo, a missa e as horas canônicas. O batismo é um sacramento, ou uma ação de Deus, invisível para o homem, que se torna realidade na ação da Igreja.
       A finalidade do batismo não era somente o perdão dos pecados, mas o introduzir o neófito numa nova vida, a existência com Cristo no seio da Igreja. No princípio o batismo somente era celebrado no dia da Páscoa ou, em caso de perigo de morte. Levando-se em consideração o elevado índice da mortalidade infantil naquela época, os pais desejavam batizar seus filhos o quanto antes. Este desejo se apoiava na convicção de era Deus Trindade, invocado neste sacramento que realizava a salvação garantida pelo rito batismal. Este rito conservou todos os aspectos do batismo de adultos, porém adaptado as criança.
   A sagrada comunhão é o segundo dos grandes sacramentos do cristianismo. Conta-se entre as mais antigas celebrações rituais cristãs e deriva da Última Ceia co-participada por Jesus e seus discípulos à véspera de sua morte. O sacramento eucarístico pode ser realizado inúmeras vezes, sempre como uma proclamação do que Jesus fez e do que tornará a fazer, enfatizando-se sua presença sacramental.
       O terceiro núcleo dos ritos cristãos era constituído pelas horas canônicas, orações fixas que se recitavam em diversas horas do dia. Já na sinagoga, os judeus praticavam certa forma de horas canônicas adotadas muito cedo pelos grupos cristãos.

A Igreja Ortodoxa

   A Igreja ortodoxa é uma das três expressões mais importantes do cristianismo. A Igreja Ortodoxa apresenta-se como uma comunhão de Igrejas.
   Dificuldades entre o Ocidente e o Oriente cristão, após um longo processo de afastamento culminou no cisma que dividiu a cristandade. Em 1054 fracassa uma tentativa de aproximação que redunda numa troca de anátemas entre um legado pontifício e um patriarca de Constantinopla. A partir de então temos a divisão entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa.
    Individualmente pela evolução própria do Oriente cristão, a Igreja Ortodoxa, tal como a Igreja católica, está consciente da sua integral continuidade com a Igreja do primeiro milênio, a dos mártires, dos Padres e dos sete concílios ecumênicos.
    Para os ortodoxos a Igreja é o Corpo de Cristo, o Templo do Espírito Santo, a Casa do Pai. O seu fundamento é o Evangelho e a Eucaristia. Cada comunidade eucarística, em torno de seu bispo, a manifesta, na medida da sua comunhão com todas as outras comunidades.
    A vida litúrgica, que implica ofícios muito longos e amplamente celebrados, não é apenas o anúncio da Boa Nova, mas uma participação na vida renovada. A Igreja Ortodoxa conservou o rito chamado bizantino. Tudo é animado pelo ciclo pascal, tudo culmina na Páscoa, a “festa das festas”, na qual ressoa incessantemente este refrão: “Cristo ressuscitou dos mortos. Pela morte, venceu a morte. Aos que estão na sepultura deu a vida.”.
     Uma beleza especial, que tem que ver com a “corporeidade espiritual” e com o simbolismo, pacifica e ilumina todas as faculdades através do canto, do ícone, da luz das lamparinas e dos círios, dos perfumes, de uma gestualidade de inclinações e prosternações. A transfiguração dos sentidos pela beleza que “suscita toda a comunhão” (Dionísio, o Aeropagita), a própria duração das celebrações, seguidas de pé na maioria das igrejas ortodoxas, provocam uma interiorização, despertam “o coração”.
     Ao pólo litúrgico corresponde necessariamente o pólo monástico. Uma única “ordem” aplicada à contemplação. Cada mosteiro tem os seus próprios costumes e as figuras exemplares. Tudo se junta no ícone, onde o homem se revela lugar de Deus, rosto de eternidade.  
     No centro da comunhão dos santos os ortodoxos veneram “Nossa Senhora”. Maria é a Mãe de Deus feito homem e, por conseguinte, dos homens chamados a fazerem-se Deus. Ou, como Paul Florensky chegou a dizer, Maria é o “coração da Igreja”.

O Protestantismo

   O protestantismo que constitui um dos três grandes ramos do cristianismo, nasceu no século XVI na Europa e estendeu-se a todos os continentes. Forma religiosa muito diversificada, o protestantismo está organizado em múltiplas Igrejas.
   Entre estas Igrejas ou denominações encontramos as mais tradicionais como: o Adventismo do Sétimo Dia, o Anglicanismo, Exército da Salvação, o Luteranismo, o Metodismo, o Calvinismo e o Presbiterianismo entre outras. Temos também um grande número de igrejas pentecostais com ênfase na ação do Espírito Santo; entre estas podemos citar como exemplo os Quakers, a Igreja Universal do Reino de Deus, a igreja Renascer e a igreja Deus é Amor. Existem também igrejas que só aparentemente são cristãs, mas, não o são de fato ou por acrescentarem uma nova revelação ao Evangelho como, por exemplo, os Mórmons e as Testemunhas de Jeová ou, por misturarem princípios cristãos e princípios orientais como a Teosofia, os Rosacruzes e o Espiritismo Kardecista.
    
As grandes características do protestantismo podem ser resumidas em três princípios:

1)   Apenas Deus – Deus dá-se a conhecer a cada um de nós apenas através da Escritura e não delega a sua graça a nenhuma instituição.

2)   Apenas a Escritura – “A autoridade soberana da Escritura em matéria de Fé” é segundo a teologia protestante, o “princípio formal” da Reforma. A Igreja relativizada pelo “apenas Deus” aí recebe a sua legitimidade: a sua missão consiste em pregar a Palavra e administrar os sacramentos, sinais da graça. Ela impulsiona uma piedade coletiva e familiar em torno da Bíblia. Ela proclama as verdades essenciais da Escritura em “confissões de Fé” que são o sinal de certa objetividade eclesial. A Igreja tem que admitir o seu próprio limite: apalavra de ordem é  “apenas a Escritura e, não Escritura e Tradição”.

3)   Apenas a Graça – Ao princípio formal da autoridade soberana da Escritura corresponde um princípio material, o da justificação pela Fé, obtida exclusivamente pela graça de Deus. As orações, sacrifícios, obras de misericórdia não tem qualquer valor se não forem acolhidos pela graça de Deus, somente Deus é que salva, o homem deve colocar-se totalmente em suas mãos e submeter sua liberdade aos desígnios de Deus.

    As Igrejas protestantes centralizam seu culto e sua liturgia na leitura, comentário e reflexão das Sagradas Escrituras.
    Os protestantes reconhecem dois sacramentos: o batismo, que não é um meio de salvação, mas sinal pelo qual se entra na aliança de Deus; e a Ceia, que não é um sacrifício oferecido pela Igreja, mas uma cerimônia em que Cristo convida e se dá a si mesmo aos crentes. Alguns luteranos consideram também como sacramentos a penitência e a absolvição, e até a ordenação do pastor. Entre os anglicanos (em certas de suas comunidades) já ocorreram a ordenação de mulheres.

A Igreja Católica

    O catolicismo é o conjunto das comunidades cristãs que  reconhecem a jurisdição do bispo de Roma, o Papa. Para os católicos o Papa é o vigário de Cristo, seu representante na terra, sucessor de São Pedro e pastor universal, a quem todos os bispos, sacerdotes e leigos devem obedecer.
    Os bispos da Igreja formam o Colégio episcopal, sucessor do colégio apostólico e, quando se reúnem em ocasiões específicas e tendo sido convocados para tal participam de um Concílio Ecumênico, mas sempre sob a presidência e em comunhão com o Papa.  
    A Igreja católica nos ensina que a liturgia é tida como o exercício do múnus sacerdotal de Jesus Cristo, no qual, mediante sinais sensíveis, é significada e realizada a salvação do homem, e é exercido o culto público integral pelo Corpo Místico de Cristo, cabeça e membros.
    São considerados atos litúrgicos as celebrações da Eucaristia e dos demais sacramentos, bem como a recitação das horas canônicas. Além das ações litúrgicas, propriamente ditas, temos também as para-liturgias e os exercícios devocionais.     
    Na grande maioria das dioceses a liturgia é celebrada no rito latino, mas, para os fiéis orientais unidos a Roma (uniatas) pode ser também celebrada em diferentes ritos orientais, semelhantes aos utilizados pelas igrejas Ortodoxas.
    Antes do Concílio do Vaticano II, a liturgia eucarística era celebrada em latim, com o celebrante de costas para a assembléia dos fiéis e acompanhadas por belíssimas músicas eruditas e pelo cantochão gregoriano. Com o Concílio houve uma grande transformação, o latim foi substituído pelas línguas vernáculas, novas orações eucarísticas foram compostas, o altar voltado para o fiel, as músicas passaram a serem populares, de acordo com o local em que se realizava a celebração. Estas mudanças, se por um lado empobreceram artisticamente o culto e tiraram-lhe aquele ar de mistério, por outro aumentaram a participação dos leigos nas celebrações, tornando-as mais compreensivas, criativas e aumentando o sentido de comunidade. A Igreja, sem dúvida, muito ganhou com a liturgia pós conciliar.
     Devemos também enfatizar que esta nova perspectiva favorece o diálogo ecumênico, pois, o que antes era acessível apenas a uns poucos, agora atinge a maioria
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   Bibliografia
   
    C. W. Mönnich – Cristianismo – História Religionum (Ii Vol.) – C. J, Bleeker – G. Widengren.
    Olivier Clément – A Igreja Ortodoxa – As Grandes Religiões do Mundo – Jean Delumeau.
    Jean Baubérot – O Protestantismo – As Grandes Religiões do Mundo – Jean Delumeau.
    Jean Rogues – O Catolicismo – As Grandes Religiões do Mundo – Jean Delumeau.
    Prof. Evaldo Pauli – Variações Ocidentais do Zoroastrismo – História da Filosofia Moderna – Enciclopédia Simpózio
   Catecismo da Igreja Católica

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