Judaísmo

Na religião judeo-israelita ocupa o lugar predominante a idéia de Deus. Durante a evolução das idéias religiosas, Deus é considerado ao mesmo tempo como criador e dono do universo e senhor da história universal.
     O judeu encontra no Deus da Bíblia um ser supremo e de uma proximidade imediata. O primeiro versículo do Gênesis considera um fato evidente a existência de um Deus que é vivo criador e pessoal. É aquele que é chamado o Deus de Abraão, que ao contrario de um ser imaterial, dotado de uma essência metafísica e desprovido de vontade, o Deus bíblico deu origem ao mundo através de um ato puramente volitivo. Os seus atributos exprimem a idéia de vida, de poder, de onisciência, de onipotência, de justiça e de bondade. Este Deus, “Javé”, comunica-se com os homens através dos profetas, seus mensageiros e escolhe “Israel” como seu povo.
     Os judeus sempre tiveram consciência de que algo os colocava a parte das outras nações. Esta diferença foi atribuída a uma vocação e a um destino especificamente religioso. A vocação dos israelitas foi dirigida a um povo, os descendentes de Abraão, que haveriam de tornarem-se numa nação grande e poderosa, porque Deus estava com eles e Ele próprio os guiaria. Assim por sua vocação Israel constituiu um Reino de sacerdotes e uma nação santa.
       Segundo a autoconsciência judia, Israel é uma comunidade natural cuja existência tem uma finalidade e um significado religioso. Esta dimensão religiosa do povo judeu se expressa, entre outras coisas, na observância de uma disciplina de vida, cuja intenção é mais a de santificar que a de salvar.
       Para os judeus é importante as noções de eleição e de aliança. Israel é o povo eleito por Deus como seu povo e, com quem estabelece uma aliança. Este Deus a que Israel deve fidelidade é um Deus intensamente pessoal. Assim, o monoteísmo judeu é exclusivo por estabelecer uma relação positiva com um Deus determinado e ciumento que tem um nome próprio “Yahvé”, que é “uno” no sentido de unicidade, daí que é incomparável, totalmente outro, espiritual e transcendente. Assim, compreende-se que o dizer do Deutronômio que diz “ Escuta Israel, Yahvé é nosso Deus, Yahvé é uno” tenha se convertido na confissão fundamental da Fé judaica.
      A relação com este Deus exige amá-Lo e teme-Lo, fazer sua vontade, obedecer-Lhe e servi-Lo. O que supõe o cumprimento de todas as suas leis e mandamentos e que é parte integrante de sua aliança com o povo, solenemente ratificada na grande teofânia do Monte Sinai.
      Estas imagens, extraídas principalmente de citações bíblicas, se por um lado permite uma maior intimidade na relação entre o homem e Deus, por outro lado obscurecem seu caráter transcendente. Diversos pensadores hebreus,  filósofos, teólogos ou místicos denunciaram o exagero do uso de antropomorfismos utilizados ao falar-se sobre Deus. Maimónides lutou com especial empenho contra o antropomorfismo, sua doutrina sobre os atributos exclui tudo quanto possa sugerir a corporeidade ou a multiplicidade, de fato todos os atributos positivos. Para evitar os antropomorfismos recorre a interpretação alegórica para conseguir que os textos “revelados’ concordem com a verdade filosófica, que deverá ser conhecida, não meramente acreditada: só o intelecto, adequadamente cultivado, constitui a parte imortal do ser humano.
     O influxo da teologia negativa, tanto a derivada da tradição neo-platônica como a derivada de Maimónides, salta a vista na Cabala, pois a doutrina cabalista sobre Deus combina elementos filosóficos e gnósticos. A Cabala clássica tinha consciência do contraste entre o Deus vivo e dinâmico da religião e o Deus conceitualmente purificado da teologia negativa.
     Os cabalistas distinguem entre dois aspectos do divino: o deus absconditus, oculto e incognoscível, e o Deus da experiência religiosa, manifesto, accessível e que se dá a conhecer na revelação. A Bíblia, palavra de Deus é o âmbito que se revela e manifesta Deus. De fato, um Deus existente significa um Deus manifesto, revelado e que estabelece relações.                     

Ritos e Liturgia
     “O catecismo do judeu é o seu calendário”. Esta sentença de S. R. Hirsch resume adequadamente a idéia judaica da vida como serviço incessante de Deus, estreitamente ligado ao curso do dia e ao ciclo anual.
     Com relação às atividades diárias, temos certas ações simbólicas que expressam a consciência básica nas formas rituais. Nos sábados, ao abster-se de atividades criadoras, o judeu expressa sua condição de criatura e a soberania de Deus como Senhor da criação e da história. Há ritos que regulam a relação do grupo e dos indivíduos com Deus, é o caso do rito anual da expiação.
     Lugar especial e de relevo no ritual judaico, cabe à circuncisão, pois todos os meninos, nascidos de uma mãe judia, são circuncidados ao oitavo dia após seu nascimento. A circuncisão não é um rito de iniciação, mas o rito para impor o sinal da aliança. O significado deste rito como sinal de pertença ao povo judeu é de tal importância que os judeus o praticam, mesmo que descuidem de observarem os demais ritos tradicionais.
     No que diz respeito às festas e celebrações do ano litúrgico temos, entre outras, as seguintes;
     O ano novo na liturgia judaica é o dia do nascimento do universo. É também o dia em que a humanidade no seu conjunto passa em juízo diante do trono divino. Considera-se que Deus usa de misericórdia para as suas criaturas como “um pai tem piedade dos filhos”. As regras que se observam neste dia são praticamente idênticas às do sábado: interdição de trabalhar, de se deslocar de carro ou até de acender o lume.
     O Yom Kippur (Dia da Expiação) começa como todas as festas judaicas, na véspera, ao por do sol. Os judeus envergando seus chalés de oração encontram-se nas sinagogas, que nessa noite estão abarrotadas. Neste dia aguarda-se obter o perdão dos pecados, mas, aquele que comete conscientemente uma malfeitoria ou uma falta a pretexto de que Kippur lhe dará absolvição, nem sequer Kippur o lavará de seus pecados.   
     A celebração anual da Páscoa, na qual se comemora a libertação do Egito e, que em suas origens se refere a um rito agrícola e de pastores nômades, foi assumindo um significado histórico e se converteu em uma íntima, conservadora e impressionante celebração doméstica; na qual estando reunida toda a família sob a liderança de seu chefe, realiza-se um banquete ritual, no qual é consumido um cordeiro sem manchas, acompanhado de ervas amargas e de vinho. Durante esta celebração são lidos trechos das escrituras (principalmente, aqueles relacionados com o Êxodo) e, se entoam hinos e orações. Os Essênios, sendo celibatários, celebram a Páscoa na sua comunidade e, não no seio da família. A última ceia entre Cristo e os apóstolos se aproxima mais da ceia celebrada pelos essênios do que da que era celebrada pelos demais judeus. Segundo uma expressão rabínica, “todo judeu de qualquer geração deve considerar como se ele também houvera saído do Egito”. Na celebração da Páscoa o judeu revive as origens de seu povo como revelação do significado da história: a liberdade dada aos escravos para que se tornem filhos de Deus, essa mesma liberdade que é dom de Deus e serviço de Deus.
     Desde o Egito até a Terra Prometida só há um caminho,
que passa pelo  Sinai. Por isso, Pentecostes, outra antiga festividade relacionada com o ciclo agrícola, converteu-se na festa da entrega da Lei mosaica. A própria Bíblia nos dá outro exemplo da tendência a “historizar” às festividades originalmente relacionadas com a natureza. A celebração dos Tabernáculos, no outono, cuja relação com as colheitas e as chuvas da próxima estação é bem atestada  pelo ramo de quatro plantas que carregam os participantes, é explicada desta forma pelo autor bíblico “Habitareis sete dias em cabanas, para que as futuras gerações saibam que fiz os israelitas habitarem em cabanas quando os tirei do Egito.” (Levítico, 23,42-43).
    A tradição judaica insiste no valor do culto público, de forma que as ações litúrgicas somente podem ser executadas propriamente na presença da “congregação israelita”, representada por pelo menos dez varões adultos. Orações apropriadas, cânticos, bênçãos e pedidos marcam o culto. O serviço público dos sábados e de outros dias incluem a leitura do Pentateuco e dos Profetas. Em tempos antigos, a leitura profética era o texto sobre o que versavam as homilias.


           
   Bibliografia
   
    Geo Widengren – Religião Judeu-Israelita – História Religionum (I Vol.) – C. J, Bleeker – G. Widengren. 
    R. J. Zwi Werblowsky – Judaismo – História Religionum (Ii Vol.) – C. J, Bleeker – G. Widengren.
    Maurice-Ruben Hayoun - O Judaismo – As Grandes Religiões do Mundo – Jean Delumeau.
    Prof. Evaldo Pauli – Judaismo e Filosofia Judaico Medieval – História da Filosofia Moderna – Enciclopédia Simpózio
   Wilkipédia/Islão – Internet

   Logos – Enciclopédia Luso Brasileira de Filosofia.

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